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Água e Dendê: Projeto “Memória Continental” Revitaliza a Pequena África no Rio de Janeiro

  • Foto do escritor: Márcia Oliveira
    Márcia Oliveira
  • 22 de jul.
  • 2 min de leitura
Classificada em primeiro lugar, Sara Zewde recebe o certificado das mãos de Leonardo Campos, gerente do BNDES — Foto: Reprodução: André Telles/BNDES
Classificada em primeiro lugar, Sara Zewde recebe o certificado das mãos de Leonardo Campos, gerente do BNDES — Foto: Reprodução: André Telles/BNDES

Água e Dendê: Projeto “Memória Continental” Revitaliza a Pequena África no Rio de Janeiro

No dia 19 de julho de 2025, foi anunciado o projeto vencedor do concurso promovido pelo BNDES para a revitalização da chamada Pequena África, na zona portuária do Rio de Janeiro. A proposta vencedora, intitulada “Memória Continental”, é assinada pela arquiteta americana Sara Zewde, do Studio Zewde, e apresenta uma transformação urbana pautada na emoção, história e ancestralidade afro-brasileira.


Memória Viva: Paisagismo que Conecta o Passado ao Presente

O projeto destaca o Cais do Valongo, patrimônio mundial da UNESCO e local de desembarque de milhões de africanos escravizados. Com uma abordagem sensorial e inclusiva, Sara Zewde propõe transformar a região num museu a céu aberto, sem muros, conectando visitantes à história profunda do território. Um grande destaque é a rampa suave, com apenas 5% de inclinação, que parte de um baobá simbólico até o cais — um toque poético que integra natureza e trajetória histórica.


O sítio do Cais do Valongo visto do alto — Foto: Digulgação/IDG
O sítio do Cais do Valongo visto do alto — Foto: Digulgação/IDG

Elementos de Água e Vegetação com Significado

Um dos elementos mais impactantes do projeto são os espelhos d’água rasos na Rua Barão de Tefé, sombreados por dendezeiros. Ao caminhar por ali, as pessoas reverenciam o mar e os trajetos ancestrais. Segundo Sara, “não é para mostrar poder colonial, mas para mostrar o poder da terra”.

O calçamento da Rua Sacadura Cabral é inspirado em tranças africanas e no design do calçadão de Copacabana, revelando a terra vermelha típica do Brasil e da África entre as frestas — um recurso que favorece drenagem e irriga a vegetação nativa.

Ilustração Cais do Valongo com as modificações propostas no projeto — Foto: Reprodução: Studio Zewde
Ilustração Cais do Valongo com as modificações propostas no projeto — Foto: Reprodução: Studio Zewde

Da Dor à Cura: Espaços que Transformam

O antigo Largo do Depósito, local de preparação de escravizados para venda, será convertido em um jardim medicinal com horta. Ali será instalada a Casa de Zungu, no prédio histórico da extinta Afoxé Filhas de Gandhy, transformando um espaço de violência em um local de cura e memória.

Outro ponto importante é a reforma da Praça da Harmonia, tradicional locus de cultura carioca. A proposta inclui um parquinho infantil inspirado em geometrias africanas, conectando as gerações e promovendo o convívio social.


Conexões com a Diáspora

O projeto também faz referência a espaços icônicos da diáspora africana, como a Porta do Não Retorno, no Senegal. Através de uma eloquência visual, estabelece um laço entre o mar do Rio de Janeiro e o oceano africano, simbolizando a profunda conexão entre continentes.


BNDES e Iniciativa Valongo: Resgatando a História Afro-Brasileira

O concurso, previsto pela Iniciativa Valongo do BNDES, foi exclusivo para arquitetos e urbanistas negros. Seu objetivo é moldar a Pequena África como um distrito cultural vibrante, comparável a Chinatowns e Little Italys globais.

Marcos Motta, assessor do BNDES, resume bem a dimensão do projeto: “Queremos que qualquer pessoa que passe pela região reconheça o território como o que ele é: um símbolo da cultura afro-brasileira e da resistência.”.





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