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Descobrindo que primatas conversam — e o que isso revela sobre nós

  • Foto do escritor: Márcia Oliveira
    Márcia Oliveira
  • há 11 minutos
  • 2 min de leitura

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Um estudo recente traz evidências fortes de que chimpanzé-s selvagens se comunicam entre si de um modo muito semelhante ao das conversas humanas — não com palavras, mas com gestos e trocas rápidas e organizadas de sinais. Isso sugere que os alicerces da comunicação humana podem ser anteriores ao surgimento da linguagem verbal, e podem estar presentes há muito tempo na nossa própria “árvore genealógica” primata.


O que o estudo descobriu:


  • Ao observar 8.559 gestos trocados por 252 chimpanzés selvagens em cinco comunidades diferentes na África oriental, pesquisadores detectaram padrões claros de “turn-taking” (alternância de turnos) nas interações.

  • Os chimpanzés respondem com gestos em cerca de 120 milissegundos após o gesto de um parceiro — um intervalo surpreendentemente próximo aos ~200 ms típicos de conversas humanas.

  • Em muitas trocas, há apenas dois gestos (envio e resposta), mas há casos de “conversas” com até sete trocas consecutivas — lembrando diálogos mais longos entre nós.

  • Os gestos dos chimpanzés cobrem funções práticas: pedir, chamar, solicitar cuidado, convidar para se mover, reconciliação após conflito, entre outros — mostrando que não são “aleatórios”, mas intencionais e contextuais.


Por que isso desafia o conceito de “somente humanos conversam”


Durante décadas, muitos cientistas consideraram a linguagem — falada ou simbólica — como uma característica exclusiva dos humanos. Mas a descoberta de uma estrutura conversacional organizada e rápida entre chimpanzés sugere que alguns dos mecanismos que permitem comunicação complexa podem ser muito mais antigos e compartilhados com outros primatas.

Esse padrão — alternância de turnos, respostas rápidas, fluxo coordenado — é um traço universal nas interações humanas, independente de idioma ou cultura. Ver algo parecido em chimpanzés indica que essa “estrutura da conversa” pode preceder surgimento da fala articulada.


O que isso muda na nossa compreensão sobre comunicação, cognição e evolução.


  • Comunicação além da fala: o estudo reforça que linguagem não é apenas palavras — gestos, expressões, trocas não-verbais podem carregar significado e seguir regras sofisticadas.

  • Raízes evolutivas comuns: humanos e chimpanzés podem compartilhar parte da base cognitiva e social que permite diálogo — possivelmente herdada de ancestrais comuns.

  • Repensar “humanidade”: capacidades antes consideradas exclusivamente humanas — conversas, coordenação social complexa — agora precisam ser vistas como parte de um continuum da evolução.

  • Novos insights para pesquisas: além de linguagem falada, estudos de comunicação não-verbal entre primatas podem iluminar as origens da linguagem, empatia, cooperação e consciência.




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