Vestígios do passado: pegadas humanas de 90 mil anos descobertas no Marrocos.
- Márcia Oliveira

- 6 de out.
- 3 min de leitura

IMAGEM: Pesquisadores da Universidade do Sul da Bretanha da França descobriram pegadas humanas que, conforme análises no local, foram deixadas há cerca de 90 mil anos no Marrocos. O periódico Scientific Reports divulgou o caso. / Crédito: M. Sedrati et al, Scientific Reports, 2024 (CC BY 4.0)
Imagine caminhar onde alguém andou há 90 mil anos. Isso é exatamente o que pesquisadores acreditam ter descoberto no Marrocos: pegadas humanas fósseis extremamente antigas, que ajudam a reescrever nossa compreensão sobre a presença e os deslocamentos dos primeiros seres humanos. A descoberta, publicada no periódico Scientific Reports, abre novas janelas para o estudo da evolução humana e dos percursos migratórios no continente africano.
O achado e sua importância
Onde e como foi descoberto
As pegadas foram encontradas no território marroquino, durante escavações conduzidas por cientistas da Universidade do Sul da Bretanha (França) em colaboração com equipes locais. A datação geológica local indica que as marcas teriam cerca de 90 mil anos.
O que revelam
Essas pegadas estão entre os mais antigos rastros humanos identificados no mundo. Elas não só confirmam que humanos já circulavam naquela região naquele período, mas também ajudam a pensar como esses grupos se comportavam — por exemplo, em termos de mobilidade, uso da paisagem e rota de expansão.
A marcação exata dos passos pode fornecer indícios sobre o tamanho, o peso, o tipo de marcha e até possíveis interações sociais (andar em grupo, por exemplo).
Relação com outras descobertas humanas
No contexto da paleoantropologia, encontrar pegadas humanas tão antigas é muito raro. Comparativamente, muitos dos fósseis humanos mais antigos são ossos isolados, fragmentos cranianos ou dentes — pegadas preservadas permitem “ver em ação” indivíduos do passado.
Isso ajuda a complementar evidências de fósseis e ferramentas líticas, fortalecendo narrativas sobre onde apareceram grupos humanos e como eles se movimentaram dentro da África e além.
Desafios e incertezas
A interpretação de pegadas antigas exige cautela: fatores como erosão, sedimentação, tectonismo e movimentações do solo muitas vezes distorcem ou apagaram detalhes.
A datação precisa — ou seja, garantir que realmente têm ~90 mil anos — depende de métodos geológicos correlatos e de camadas estratigráficas bem preservadas.
Saber exatamente quais pessoas deixaram essas pegadas, de quais populações ou subespécies humanas (por exemplo, Homo sapiens, Homo rhodesiensis ou outras linhagens), é um salto interpretativo além da evidência direta.
Implicações para a história humana
A descoberta reforça a hipótese de que humanos “modernos” estavam presentes em partes da África em períodos bem anteriores aos frequentemente citados “pontos de migração para fora da África”. Isso pode influenciar teorias sobre:
Modelos de origem e dispersão humana: talvez mais rotas de migração foram usadas e em momentos mais precoces do que se pensava.
Diversidade populacional africana: o continente africano já era palco de múltiplos grupos humanos com comportamentos distintos muito cedo.
Adaptação ecológica: como esses grupos antigos se adaptaram a variados ambientes do continente, desde áreas costeiras até zonas mais áridas ou montanhosas.
Conclusão
A descoberta dessas pegadas de 90 mil anos no Marrocos é um achado extraordinário que reforça a importância da África como o berço da humanidade e demonstra que ainda temos muito a aprender sobre os nossos ancestrais — não apenas por meio de ossos e artefatos, mas também pelas marcas deixadas no solo. Cada pegada nos conecta, literalmente, ao passado e nos lembra que nossa história é antiga, complexa e ainda em construção.
FONTE:




Comentários