K2-18b e MeerKAT: A Busca por Vida no Cosmos
- Márcia Oliveira
- 29 de abr.
- 4 min de leitura

Fonte: Imagem de Kipargeter no Freekip.
<a href="https://br.freepik.com/fotos-gratis/cena-do-espaco-3d-com-planetas-ficticios-e-estrelas_1077125.htm">
Os estudos em astronomia têm passado por uma revolução impulsionada por avanços tecnológicos como o Telescópio Espacial James Webb (JWST) – o JWST foi posto em órbita em 2021 (ver https://jadc.swin.edu.au/#IAUS391) – e transformou os estudos em astronomia. Este super telescópio tem coletado dados espectroscópicos (análise da luz da estrela que passa através da atmosfera do planeta durante um trânsito ou a luz que é refletida/emitida pelo planeta) que permitem aos cientistas analisarem a composição química das atmosferas planetárias, abrindo novas perspectivas na busca por vida fora da Terra. Um exemplo notável é o exoplaneta K2-18b, localizado a 124 anos-luz de distância, cujos marcadores moleculares específicos detectados pelo JWST sugerem a possibilidade de um mundo “hyceânico”: ‘hyceanos’ é uma nova categoria apresentada pelos astrônomos atuais que se refere a planetas fora do sistema solar, caracterizados por interiores ricos em água e oceanos massivos sob atmosferas ricas em hidrogênio (H₂). Esses planetas, possuem densidades que se situam entre as de super-Terras rochosas e mini-Netunos mais extensos e são considerados candidatos ideais na busca por habitabilidade em exoplanetas. (MADHUSUDHAN, CONSTANTINOU, 2021).
Cientistas da Universidade de Cambridge, coordenados pelo professor Nikku Madhusudhan, utilizaram o JWST para identificar na atmosfera de um exoplaneta distante, localizado a 124 anos-luz da Terra, marcadores moleculares específicos – compostos químicos detectáveis que funcionam como “impressões digitais” – de gases que, em nosso planeta, são tipicamente gerados por atividades biológicas. O estudo foi publicado em “Notícias Mensais da Sociedade de Astronomia Real” (Monthly Notices of the Royal Astronomical Society) — MITCHELL, MADHUSUDHAN (2025).

A imagem acima é uma ilustração gerada por computador com base na coleta de dados espectroscópicos produzidos pelo JWST.
O Impacto das Novas Descobertas Astronômicas
As descobertas recentes em astronomia, como as relacionadas ao exoplaneta K2-18b, têm um impacto profundo em nossa compreensão do universo e de nosso lugar nele. A detecção de moléculas contendo carbono, como metano e dióxido de carbono, na atmosfera de K2-18b, juntamente com a possível detecção de dimetil sulfeto (DMS), um composto que na Terra é quase exclusivamente produzido por organismos vivos, abre a possibilidade de que este exoplaneta possa abrigar vida microbiana.
Essas descobertas não apenas expandem nosso entendimento de zonas habitáveis para incluir planetas com atmosferas ricas em hidrogênio, mas também demonstram a capacidade do JWST para caracterizar atmosferas de exoplanetas relativamente pequenos, uma capacidade técnica sem precedentes. Além disso, estabelecem um precedente para a detecção de múltiplos compostos químicos que, quando analisados em conjunto, fornecem um contexto mais completo para avaliar o potencial de habitabilidade.
Mas como a África se encaixa nessa narrativa cósmica?
O continente tem se destacado cada vez mais no cenário astronômico global, com a África do Sul liderando o caminho.
A Atuação da África do Sul na Vanguarda da Astronomia
No coração do semi-árido Karoo sul-africano, ergue-se o radiotelescópio MeerKAT, um marco revolucionário para a ciência astronômica mundial. Operado pelo Observatório de Radioastronomia da África do Sul, o MeerKAT representa não apenas um dos maiores projetos de infraestrutura científica da África do Sul nos últimos 30 anos de democracia, mas também um símbolo do crescente protagonismo africano na astronomia global.

Fonte: https://360news.com.br/radiotelescopio-meerkat-vai-procurar-sinais-de-vida-alienigena-em-estrelas/
O radiotelescópio MeerKAT é um impressionante conjunto de 64 antenas parabólicas e funciona como precursor do ambicioso projeto Square Kilometre Array (SKA), que, quando concluído em 2028 ou 2029, será o radiotelescópio mais poderoso do mundo. Destacando-se por sua excepcional sensibilidade e resolução, o MeerKAT tem proporcionado aos astrônomos uma visão sem precedentes do universo, revolucionando particularmente o campo da astronomia de transientes – estudo de objetos celestes que apresentam características mutáveis em períodos relativamente curtos.
As extraordinárias capacidades técnicas do MeerKAT já resultaram em descobertas fundamentais, como a observação detalhada da colisão entre duas estrelas de nêutrons em 2017, contribuindo significativamente para nossa compreensão dos fenômenos mais energéticos do cosmos. Mais que um avanço tecnológico, o MeerKAT representa o florescimento da excelência científica africana, cultivando talentos locais e estabelecendo o continente como um centro global de inovação astronômica.
Perspectivas para o Futuro do Continente Africano na Astronomia
O futuro da astronomia na África é promissor. Com projetos como o MeerKAT e o SKA, a África do Sul está se tornando um centro global de pesquisa astronômica. Além disso, iniciativas educacionais e de divulgação científica estão ajudando a inspirar a próxima geração de cientistas africanos.
A inclusão da África nos grandes debates científicos globais é fundamental para garantir que a ciência seja verdadeiramente global e inclusiva. A África tem uma rica história de conhecimento astronômico e um futuro brilhante na pesquisa astronômica. Ao investir em ciência e tecnologia, o continente berço da humanidade pode desempenhar um papel de liderança na busca por vida no universo e na compreensão dos mistérios do cosmos.
Em um mundo cada vez mais conectado, a colaboração internacional é essencial para o avanço da ciência. A África tem muito a oferecer à comunidade científica global, e o mundo tem muito a ganhar com a inclusão da África nos grandes debates científicos.

Imagem criada por GPT Image (Adapt∆ One) – MeerKAT (SKA) na África do Sul
Referências:
Madhusudhan, N., Piette, A. A., & Constantinou, S. (2021). Habitability and biosignatures of Hycean worlds. The Astrophysical Journal, 918(1), 1.
Mitchell, E. G., & Madhusudhan, N. (2025). Prospects for biological evolution on Hycean worlds. Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, staf094.
Shao, L., & Yagi, K. (2022). Neutron stars as extreme laboratories for gravity tests. Science Bulletin, 67(19), 1946-1949.
Para saber mais:
Impey, C. (2025, April 25). Extraordinary claims require extraordinary evidence: An astronomer explains how much evidence scientists need to claim discoveries like extraterrestrial life. The Conversation, [S.l.], 25 abr. 2025. Disponível em: https://theconversation.com/extraordinary-claims-require-extraordinary-evidence-an-astronomer-explains-how-much-evidence-scientists-need-to-claim-discoveries-like-extraterrestrial-life-254914.
Davidson, D. B. (2012, October). MeerKAT and SKA phase 1. In ISAPE2012 (pp. 1279-1282). IEEE.
Comentários