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Guiné-Bissau: o golpe de 2025 e o futuro incerto de uma democracia abalada

  • Foto do escritor: Márcia Oliveira
    Márcia Oliveira
  • há 6 dias
  • 3 min de leitura




Na manhã de 26 de novembro de 2025, a Alto Comando Militar para a Restauração da Segurança Nacional e Ordem Pública — autodenominada junta militar da Guiné-Bissau — anunciou que assumia o “controle total” do país, suspendia o processo eleitoral em curso, fechava as fronteiras e impunha toque de recolher.

O golpe acontece apenas três dias após as eleições gerais realizadas em 23 de novembro, nas quais o presidente em exercício, Umaro Sissoco Embaló, buscava a reeleição. Como nem o resultado oficial havia sido divulgado — previsto para 27/11 —, a ação gerou choque no país e repercussão imediata internacional.


O que aconteceu — em detalhes

  • No início da quarta-feira, tiros foram ouvidos perto da comissão eleitoral, do palácio presidencial e do ministério do Interior, na capital Bissau. Pouco depois, oficiais do exército apareceram na televisão estatal anunciando a deposição do presidente Embaló, a suspensão de todas as instituições da República e do processo eleitoral, além do fechamento de fronteiras e início de toque de recolher.

  • O porta-voz do novo regime militar, Dinis Incanha, leu o comunicado que formalizava a tomada de poder. Segundo ele, a intervenção militar visava “restaurar a ordem”, em resposta a um suposto plano de desestabilização envolvendo políticos e barões do tráfico — acusação feita sem apresentação de provas públicas.

  • Na manhã do dia seguinte (27/11), o general Horta Inta-A Na Man foi empossado como presidente de transição e líder do Alto Comando Militar, formalizando a junta no poder.


Por que esse golpe reverbera tão profundamente


Um histórico de instabilidade

Desde sua independência, em 1974, a Guiné-Bissau já vivenciou pelo menos nove golpes ou tentativas de golpe — este de 2025 é mais um capítulo de uma longa trajetória de rupturas institucionais.

As repetidas intervenções militares fragilizam a democracia, tornam incertas as instituições e mantêm o país refém de ciclos de crise política, instabilidade econômica e vulnerabilidade social.


Suspensão política e incerteza civil

Com o fechamento das fronteiras, interrupção das eleições e dissolução dos órgãos democráticos, milhões de guineenses veem suas vozes e direitos suspensos sem previsão clara de retorno.

Além disso, acusações de envolvimento com tráfico de drogas lançam suspeitas sobre a motivação real por trás da tomada de poder — gerando temor de que o golpe seja menos sobre “ordem” e mais sobre interesses de grupo.


Impacto regional e internacional

Organizações internacionais como a União Africana (UA) e a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) já manifestaram preocupação com o golpe, pedindo retorno imediato à ordem constitucional.

O episódio reacende o debate sobre a fragilidade democrática em diversos países da África Ocidental — especialmente em contexto de pressão social, crises econômicas e disputas de poder interno. A Guiné-Bissau torna-se mais uma nação sobre alerta.


O que esperar daqui para frente — cenários possíveis

  1. Negociações e pressão internacional — A UA, CEDEAO e potências internacionais podem exigir a restauração do processo eleitoral e propor sanções ou mediação diplomática. Esse caminho dependerá da pressão externa e da mobilização da sociedade civil.

  2. Estagnação prolongada — A junta militar pode manter o controle, adiar eleições indefinidamente e reconstruir o poder em torno de interesses militares ou de elites internas — o que representaria retrocesso para democracia e direitos civis.

  3. Retorno gradual à democracia — sob supervisão — Um cenário intermediário poderia prever eleições supervisionadas, reforma institucional e pactos internos por estabilidade, mas dependeria de vontade política e garantia de segurança.

Qualquer que seja o desfecho, a incerteza sobre liberdades civis, estabilidade econômica e representatividade popular deve permanecer por meses — senão anos.


Por que essa crise interessa a todos

  • A Guiné-Bissau é parte de um contexto mais amplo de instabilidade em África Ocidental. A persistência de golpes enfraquece a governança regional, compromete acordos de cooperação e influencia fluxos migratórios.

  • Para países lusófonos e para a comunidade internacional, o episódio é um alerta sobre a fragilidade institucional, a importância da vigilância diplomática e o risco real de retrocessos democráticos.

  • Em um mundo globalizado, crises em um país têm repercussões além das fronteiras — seja em segurança, economia, refugiados ou governança internacional.


Considerações finais

O golpe de 2025 na Guiné-Bissau não deve ser visto como um desvio isolado — mas como um sintoma de problemas estruturais profundos: fragilidade institucional, disputas de poder, influência do tráfico e ausência de governança forte.

A comunidade internacional e atores internos enfrentam agora um dilema: permitir que a instabilidade persista ou pressionar por um caminho de retorno à democracia. O futuro do país — e a vida de milhões de guineenses — depende de decisões nos próximos dias.





FONTES / SAIBA MAIS:



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