Corte do chifre reduz em 78% a caça de rinocerontes na África
- Márcia Oliveira

- 9 de jun.
- 2 min de leitura

Na África do Sul, conservacionistas têm adotado uma medida drástica para salvar os últimos rinocerontes: remover preventivamente seus chifres. Ocorrida entre 2015 e 2022 em reservas protegidas, a prática envolve sedar os animais — que podem pesar várias toneladas — e aparar seus chifres, benéficos para caçadores ilegais.
O resultado? Uma redução de 78% nos casos de caça ilegal durante sete anos em oito das onze reservas analisadas. Para se ter ideia, o custo médio para salvar um indivíduo foi de US$ 7.133 (~R$ 39,9 mil), usando apenas cerca de 1% do orçamento das reservas para combate à caça.
Entre proteção e identidade perdida
Mas será que “descornar” é a solução definitiva? Especialistas como Timothy Kuiper (Universidade Nelson Mandela) chamam a técnica de um mal necessário. Não é apenas uma medida técnica, mas também moral: “um rinoceronte ainda é um rinoceronte sem seus chifres?”, questiona, lembrando que esse símbolo natural tem forte significado cultural e comportamental.
Ontem, estudos mostraram que rinocerontes negros sem chifres tendem a:
Ter territórios 45% menores
Reduzir em 37% interações sociais, especialmente entre machos.
Apesar disso, não há indícios, até agora, de queda populacional direta — embora especialistas alertem que a redução do convívio social pode, a longo prazo, prejudicar a reprodução .
Nada é suficiente sozinho
A prática de remoção de chifres não é uma solução isolada. É apenas uma etapa emergencial dentro de um conjunto de medidas que devem incluir:
Vigilância reforçada — guardas florestais populares, mas nem sempre suficientes
Combate à corrupção e ao crime organizado
Educação local e conscientização internacional
Regulação do mercado do chifre
Essa abordagem é semelhante a próteses temporárias: salvam o que têm valor, mas não resolvem o que está por trás da demanda. O mercado clandestino valoriza o chifre como troféu e suposto remédio — memória ainda viva na Idade Média e impulsionada pela medicina tradicional.
O dilema humano refletido no rinoceronte
O caso ilustra uma tensão humana: nossas soluções devem conviver com imperfeições. Como resume Elcio Batista em reflexão no LinkedIn, “a conservação mutila para proteger”; como espécie, “pensar revela que não há saídas sem perdas”. É uma história comovente, que reflete nosso papel ambíguo no planeta: criadores de esperança e também de consequências indesejadas.
Conclusão
Remover os chifres dos rinocerontes é uma estratégia que salva vidas, mas também introduz novas fragilidades — como alteração comportamental e risco de caças contínuas, mesmo sem o chifre intacto. Psicologicamente, simbolicamente, envolve dilemas profundos.
Saída? Preservar é complexo — não basta “descornar”, é preciso unir tecnologia, fiscalização, cooperação internacional, educação e regulação. É um lembrete dolorido: salvar não é fácil, mas é urgente.
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