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A revolução criativa africana: o que aprendemos com a Lagos Fashion Week 2025

  • Foto do escritor: Márcia Oliveira
    Márcia Oliveira
  • 4 de nov.
  • 3 min de leitura

A cada ano, o ritmo de transformação no continente africano se manifesta de formas mais intensas — e um dos palcos mais visíveis dessa mudança vem da moda, da cultura e da expressão criativa. Em outubro/novembro de 2025, a edição da Lagos Fashion Week (LFW) reacendeu olhares para a África como protagonista e não apenas cenário. O artigo da Vogue sobre suas “3 Key Takeaways From Lagos Fashion Week” nos serve como bússola para entender três vetores centrais dessa revolução.


Da plataforma à liderança criativa

A LFW celebrou sua 15ª edição em 2025, com mais de 60 designers e cerca de 15.000 convidados. Esse crescimento revela que o continente africano não está apenas revendendo estilos ou modulando tendências externas: está gerando, liderando e inovando. A fundadora da LFW, Omoyemi Akerele, lembra: “o que começou como fashion week agora é um movimento”. Esse “movimento” carrega aspirações profundas: empoderar criadores, formar ecossistemas locais, conectar talentos africanos ao mercado global sem perder identidade. A ideia de que “África é o backbone quando falamos de criatividade” ganha novo peso.


Sustentabilidade, ancestralidade e mercado

Um dos pilares destacados pela cobertura foi o papel central da sustentabilidade. O programa Green Access da LFW — incubadora para designers com práticas sustentáveis — ampliou para além da Nigéria, atraindo talentos de Marrocos, Quénia, Gana. Nesse âmbito, vemos algo além da estética: designers usando tintas naturais, upcycling de tecidos, técnicas tradicionais reaproveitadas — tudo isso vinculando moda, cultura e meio ambiente. A mensagem é clara: moda africana contemporânea não ignora o passado nem o planeta.Também há ênfase em tornar o mercado interno mais forte: parceiros de varejo como Nahous ou Temple Muse foram integrados à estrutura da LFW para que os designers não meramente mostrem — mas vendam. Isso aponta para uma economia criativa que combina arte, cultura e negócios.



Orgulho cultural, visibilidade global e conexão com a diáspora

O evento igualmente se tornou palco de orgulho cultural e afirmação: influenciadores, celebridades, membros da diáspora chegam para ver, cobrir, celebrar — e isso reforça que a moda africana não é periferia, é central. Quando nomes como Ciara participam ou assumem papel surpresa na passarela, ou quando a mídia internacional volta o foco para Lagos, entendemos que há uma afirmação: o mundo está olhando para África, não para o que “vem de África”, mas para o que a África cria.Esse trânsito entre o local e o global fortalece a identidade africana contemporânea — que se baseia no passado, mas não está presa a ele; que olha para o futuro, sem alienar suas raízes.


Por que isso importa para a África e para o mundo

Para a África, o impacto é múltiplo:

  • Estimulam-se empregos locais, cadeias de valor criativas, novos modelos de crescimento.

  • Redefine-se a narrativa: não mais “África precisa de fashion weeks”, mas “África faz fashion weeks que o mundo observa”.

  • Inspiração para jovens criadores: o palco está mais próximo, o reconhecimento mais real, e os mercados mais acessíveis.

Para o mundo mais amplo, a LFW expõe uma mudança de paradigma: no modo como se consome moda, no que se valoriza culturalmente, no que se entende por centralidade criativa. O que acontece em Lagos influencia Paris, Milão e além — e isso abre portas para uma moda mais plural, mais justa, mais representativa.


Conclusão

O que aprendemos com a 15ª edição da Lagos Fashion Week? Que a moda na África não é apenas espetáculo, é transformação. Que a sustentabilidade e a ancestralidade podem caminhar lado-a-lado com a passarela. Que o orgulho cultural não é um slogan, mas uma vivência. E que a África está escrevendo o seu capítulo — não mais como segundo ato, mas como protagonista.Para os criadores, para os públicos, para os mercados: é tempo de olhar para Lagos, para a Nigéria, para a África — como terra de inovação. Como palco onde o futuro da moda, e talvez do design em geral, está sendo moldado.E se há algo que podemos levar adiante é: a moda pode ser útil, relevante e profundamente enraizada no lugar de onde surge.



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