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Quando a natureza decide inovar: a zebra da bolinha

  • Foto do escritor: Márcia Oliveira
    Márcia Oliveira
  • 6 de nov.
  • 3 min de leitura


 a zebra da bolinha Divulgação/Frank Liu
a zebra da bolinha Divulgação/Frank Liu



No coração da savana africana — mais especificamente na Reserva Maasai Mara, no Quênia — foi fotografada uma zebra diferente de tudo que os biólogos estão acostumados a ver: a Tira, um exemplar de zebra‑comum ( Equus quagga ), que ­– em vez de listras pretas e brancas — ostenta bolinhas brancas sobre pelagem marrom-escura.



O que está acontecendo?

O que chama atenção no caso de Tira é que suas listras tradicionais foram completamente substituídas por manchas pontilhadas. Isso é resultado de uma condição genética extremamente rara chamada de pseudomelanismo, na qual a distribuição do pigmento melanina (responsável pelas cores) não segue o padrão habitual.

Num trecho do artigo original:

“O pseudomelanismo ocorre quando há uma alteração na distribuição da melanina, pigmento responsável pela coloração da pele e dos pelos. … Neste caso, esse processo foi interrompido durante o desenvolvimento embrionário, o que gerou o padrão pontilhado e irregular.”

Ou seja: em épocas iniciais de sua formação embrionária, o padrão programado para a pelagem foi alterado — e o resultado foi singular.


Por que esse padrão tradicional importa?

As zebras não têm listras por acaso — esses padrões desempenham papéis importantes em sua ecologia. De acordo com estudos, as hipóteses principais incluem:

  • Controle de moscas e insetos hematófagos: o padrão de listras pode dificultar que insetos como tsetse-fly e moscas-do-cavalo pousarem na pele da zebra.

  • Termorregulação e outras adaptações (embora essas sejam mais controversas).

  • Reconhecimento social ou individual entre zebras, ou confundimento de predadores pelo movimento em grupo.


No caso de Tira, o artigo aponta que:

“As listras tradicionais das zebras têm funções importantes: confundem predadores, regulam a temperatura corporal e até ajudam a repelir moscas.”

E ainda adverte:

“Sem esse contraste visual, Tira pode se tornar mais vulnerável a ataques e a doenças transmitidas por insetos…”

O fascínio e os riscos

Por um lado, Tira virou símbolo de raridade — algo que escapa ao previsível da natureza e nos faz lembrar que ainda há surpresas. Por outro, tal mutação pode trazer desvantagens na selva: menor proteção camuflada, maior visibilidade a predadores, possível maior exposição a parasitas ou insetos. O artigo observa que a zebra está “livre” na savana, mas seu futuro é incerto.


Por que relatos assim importam para ciência e conservação?

  1. A mutação fornece pistas sobre como os padrões corporais se formam em animais, o que pode ajudar a compreender mecanismos de desenvolvimento embrionário, genética da pigmentação e variantes evolutivas.

  2. Pode lançar luz sobre o equilíbrio entre adaptação e vulnerabilidade — ou seja, como características que parecem “bonitas” ou “incomuns” podem trazer desvantagens sob pressão ecológica.

  3. Ajuda a lembrar que a biodiversidade vai além do que vemos todos os dias: mesmo espécies “bem-estudadas” guardam raridades que desafiam nossos modelos.


Em meio ao mosaico familiar de zebras listradas — preto no branco, contrastando na savana — Tira surge como um lembrete: a natureza não está congelada em modelos. Há variações, mutações, surpresas. E essas surpresas ajudam a ciência a perguntar de novo: “por que exatamente – e como exatamente – este padrão existe?”

Como espectadores, podemos contemplar Tira não apenas pela sua beleza singular, mas também pelo significado profundo que traz: cada indivíduo é parte de uma história muito mais ampla — de evolução, adaptação, mutação e, genuinamente, de mistério natural.



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