Quem foi Jane Goodall?
- Márcia Oliveira

- 2 de out.
- 4 min de leitura

“Sobre o que você labuta faz a diferença; e você tem que decidir sobre como fazer a diferença.” Essa frase emblemática de Jane Goodall reflete bem o espírito de vida dela: não só observadora do mundo natural, mas alguém que escolheu agir para transformá-lo.
Quem foi Jane Goodall — infância, formação e primeiros passos
Jane Morris Goodall nasceu em Londres, no dia 3 de abril de 1934. Desde criança demonstrou fascínio pelos animais e pela natureza. Quando jovem, ela leu as obras de grande naturalistas — como os livros de Tarzan — e desenvolveu o sonho de um dia viver na África entre animais selvagens.
Em 1957, já adulta, Jane foi ao Quênia, onde conseguiu trabalhar como secretária em uma fazenda. Durante esse período, ela procurou o famoso paleoantropólogo Louis Leakey e manifestou o desejo de estudar animais selvagens para entender melhor o comportamento dos primatas. Leakey acabou oferecendo-lhe uma oportunidade de pesquisa.
Sem uma formação acadêmica formal inicial voltada para biologia, ela foi enviada a estudar primatologia e anatomia com especialistas em Londres (com Osman Hill e John Napier) antes de começar seu trabalho em campo.

O trabalho na África — Gombe, descobertas e desafios
Em julho de 1960, aos 26 anos, Jane Goodall chegou à Tanzânia (na época Tanganica) para iniciar seu estudo dos chimpanzés selvagens na reserva de Gombe Stream National Park.
Lá, ela permaneceu observando os chimpanzés da comunidade Kasakela, registrando suas interações sociais, rituais familiares, comportamentos individuais e também comportamentos até então considerados “tipicamente humanos”. Ela insistia em dar nomes aos animais (em vez de numerá-los), e defendia que eles tinham personalidades distintas, emoções e relações complexas.
Uma das descobertas mais revolucionárias de Goodall foi observar que chimpanzés fazem uso de ferramentas — por exemplo, usar galhos finos para pescar insetos dentro de buracos, cobrindo-os com terra para impedir que escapem. Essa constatação abalou o pressuposto de que o uso de ferramentas era exclusivo dos seres humanos.
Além disso, ela observou que chimpanzés podiam caçar cooperativamente, consumir carne (não eram exclusivamente herbívoros), manifestar emoções como alegria ou tristeza, envolver-se em embates entre grupos, formação de alianças e até conflitos violentos — aspectos que trouxeram à luz semelhanças profundas entre primatas e humanos.
Um episódio famoso conhecido como “Guerra dos Chimpanzés de Gombe” ilustra como um conflito prolongado entre comunidades de chimpanzés resultou em comportamentos agressivos e até morte de muitos indivíduos, algo que até então era considerado exclusivo dos humanos.
Com o tempo, Goodall entendeu que o estudo isolado dos chimpanzés não bastava para preservá-los: era essencial trabalhar em conservação, proteção do habitat e envolvimento das populações humanas próximas.

Institutos, programas e impacto na conservação
Em 1977, Jane Goodall fundou o Jane Goodall Institute (JGI) — organização dedicada à conservação dos chimpanzés, proteção de seus habitats e promoção de um relacionamento sustentável entre humanos e natureza.
Em 1991, ela lançou o programa Roots & Shoots (Raízes & Brotos), que incentiva jovens em todo o mundo a se envolverem ativamente em causas ambientais. Hoje esse programa conta com milhares de grupos em dezenas de países.
No âmbito africano, o JGI promoveu projetos concretos, como:
O Tchimpounga Chimpanzee Rehabilitation Center, na República do Congo, para cuidar de chimpanzés órfãos vítimas do comércio ilegal de animais.
O programa TACARE (Take Care / Lake Tanganyika Catchment Reforestation and Education), iniciado em 1994, que combina reflorestamento e educação com métodos agrícolas sustentáveis para proteger o habitat ao redor de Gombe e envolver comunidades humanas locais.
Além disso, Goodall defendeu causas como o fim dos testes em animais, bem-estar animal nas granjas, vegetarianismo e veganismo por razões éticas e ambientais. Ela também colaborou com projetos de mapeamento por satélite para monitorar desmatamento que ameaça os chimpanzés e seus ecossistemas na África ocidental.
Vida pessoal e últimos anos
Jane Goodall foi casada duas vezes. Em 1964, casou-se com o fotógrafo de vida selvagem Hugo van Lawick, com quem teve um filho, Hugo. Eles se divorciaram em 1974. Em 1975, ela se casou com Derek Bryceson, um político tanzaniano e diretor dos parques nacionais da Tanzânia, que faleceu em 1980 de câncer.
Ela vivia entre o Reino Unido e diversas viagens pelo mundo, atuando como palestrante, escritora e ativista. Apesar da idade avançada, seguiu ativa em suas causas até os últimos anos.
No dia 1º de outubro de 2025, Jane Goodall faleceu aos 91 anos, de causas naturais, enquanto participava de uma turnê de palestras nos Estados Unidos.
O trabalho de Jane Goodall transformou não apenas a primatologia, mas nossa percepção sobre a ligação entre humanos e animais. Ela estimulou uma visão mais empática e interconectada da vida.
Entre seus prêmios e reconhecimentos destacam-se a nomeação como Dame Commander do Império Britânico, o prêmio Kyoto, prêmios de conservação ambiental, além de ter sido Mensageira da Paz da ONU.
Hoje, inspira gerações a escolher como “fazer a diferença” — não só pelo estudo, mas pela ação concreta em favor da natureza e dos seres vivos.
Finalizando com a frase
“Sobre o que você labuta faz a diferença; e você tem que decidir sobre como fazer a diferença.” A vida de Jane Goodall é exatamente esse chamado: não basta observar, mas é necessário agir. Que cada um de nós possa decidir conscientemente como laborar para deixar um mundo melhor.
Fontes de consulta:
Jane Goodall (Wikipedia)
About Jane — JaneGoodall.org
“Jane Goodall’s legacy: three ways she changed science”, Nature
Notícias recentes sobre sua morte (The Guardian, Reuters)




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