Mistérios de Pedra: As Antigas Pinturas da Cratera Vredefort, o Berço da Arte Humana na África do Sul

Márcia Oliveira
5 de mai.
3 min de leitura

Antiga pintura encontrada na Cratera Vredefort - Divulgação/Universidade do Estado Livre

Fotografia do dique visto do solo / Crédito: Divulgação/Universidade do Estado Livre

Quando se pensa nas civilizações antigas, é comum que venham à mente imagens dos grandiosos templos egípcios ou das complexas cidades mesopotâmicas. No entanto, muito antes dessas sociedades florescerem, os primeiros humanos já deixavam suas marcas no mundo – não apenas em ferramentas e utensílios, mas também em obras de arte que contavam histórias de seu cotidiano e espiritualidade. Um desses locais extraordinários é a Cratera Vredefort, na África do Sul.

Uma Testemunha do Passado Remoto da Terra

A Cratera Vredefort é a maior cratera de impacto de asteroide confirmada do planeta, com aproximadamente 88 quilômetros de diâmetro. Formada há cerca de 2 bilhões de anos, essa gigantesca estrutura se encontra a sudoeste de Joanesburgo e é considerada um dos locais geológicos mais antigos e importantes do mundo. Segundo Roger Gibson, especialista da Universidade de Witwatersrand, o impacto que a criou foi tão violento que moldou a paisagem de maneira irreversível, criando profundas fraturas e estruturas rochosas que ainda hoje desafiam os geólogos.

Com o passar dos milênios, a erosão natural e os processos geológicos moldaram a cratera em uma formação que se assemelha a uma tigela rasa, onde humanos antigos encontraram abrigo e inspiração para suas expressões artísticas. As paredes rochosas, expostas pela erosão, ofereceram superfícies ideais para a criação de gravuras e pinturas, transformando o local em um verdadeiro museu a céu aberto.

As Primeiras Marcas de Criatividade Humana

Há cerca de 8.000 anos, a região da cratera era habitada pelos Khoi-San, um dos povos mais antigos da humanidade. Conhecidos como os "Primeiros Povos" da África do Sul, eles desenvolveram uma rica tradição espiritual e artística que sobrevive até os dias de hoje em suas histórias e mitologias. Para esses antigos habitantes, a natureza era muito mais do que apenas um ambiente físico – era um lugar sagrado, repleto de significado simbólico.

Recentemente, arqueólogos descobriram desenhos antigos esculpidos nas rochas da cratera, retratando animais como hipopótamos, cavalos e rinocerontes. Essas figuras são consideradas alguns dos primeiros exemplos de arte humana, refletindo a profunda conexão espiritual dos Khoi-San com a natureza ao seu redor. Muitos pesquisadores acreditam que esses desenhos podem estar relacionados a rituais de chuva, dada a importância espiritual das serpentes – conhecidas como "Cobras da Chuva" – na mitologia Khoi-San.

Uma Janela para o Passado Humano

Matthew Huber, geógrafo da Universidade do Estado Livre, explicou à Newsweek que esses registros antigos representam muito mais do que simples gravuras – eles são uma janela para o pensamento, as crenças e os valores dos primeiros humanos modernos. As marcas esculpidas em estruturas rochosas conhecidas como "Diques Granophyre" se estendem por até 10 quilômetros e, embora desgastadas pelo tempo, ainda preservam as formas de animais que habitavam a região há milênios.

Esses diques, formados logo após o impacto do asteroide, têm cerca de 5 metros de largura e são considerados locais sagrados pelos descendentes dos primeiros habitantes. Para muitos estudiosos, essas formações não são apenas evidências geológicas, mas também monumentos culturais que testemunham a criatividade e a resiliência dos povos antigos.

Preservando a História dos Primeiros Povos

Hoje, a Cratera Vredefort é reconhecida como Patrimônio Mundial da UNESCO, não apenas por sua importância geológica, mas também por seu valor arqueológico. Os cientistas continuam a explorar a área, tentando decifrar os mistérios deixados pelos antigos artistas que ali viveram. Esses esforços não apenas preservam a memória desses primeiros humanos, mas também ajudam a contar a história da humanidade desde seus primórdios.